quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Entrevista - MonsterGuillermo

Hail Hail! Hoje vim com algo especial pra vocês, cambada: uma entrevista exclusiva ao nosso blog! E o nosso primeiro interrogatório é para ele, V, o homem por trás das máscara de MonsterGuillermo! Caso não conheçam ele, aqui vai um de seus trailers, disponíveis em seu canal no YouTube:


Foda, né? Agora vejam o terror que ele causou a uma palestra à qual compareceu:


Falem a verdade, o cara é ou não é MUITO FODA? Visto isso, percebi que havia nele um jovem talento a ser explorado, e rapidamente propus a entrevista. então, sem mais delongas, vamos à dita-cuja:


Roach on the Wall - Primeiramente, olá, obrigado por aceitar nossa proposta de entrevista ^^ Diga, tu mora onde e faz o quê da vida?
MonsterGuillermo - Que nada, pra mim é uma honra dar uma entrevista intitulada “Entrevista Monster Guillermo Trashmaker Yeeeeeeeeeaaaaaaahhhhhhh.” Quando vi que se chamaria assim, pensei: “aí está algo verdadeiramente horrorshow”. Moro em Porto Alegre. Sou escritor, publicitário e trashmaker. Tenho um estúdio de criação de histórias chamado “Estúdio V de Coisas Fantásticas”. É uma empresa dirigida por um cara chamado V, que na verdade também sou eu. O Monster Guillermo é uma das minhas facetas. É uma coisa tipo Dr. Jekyll e Mr. Hyde, o Médico e o Monstro, saca? Quando comecei a criar e filmar certas coisas, percebi que eu precisava assumir uma outra personalidade pra poder romper alguns limites. Então criei o Monster Guillermo e meio que virei ele também. Eu sempre acabo assumindo um pouco dos personagens que crio. É importante pra definir o perfil psicológico deles. A não ser quando o personagem é uma garota, como a Charlote (da série “Rango e Charlote” - http://rangoecharlote.com/ ). Aí eu chamo garotas.


RW - Como surgiu essa paixão pelo trash?
MG - Na real sempre fui um amante da arte trash. Eu e meu irmão mais velho. Quando éramos pequenos – eu não tinha nem 10 anos naquela época - as locadoras de vídeo locavam vídeos piratas. Não tinham capa nem nada. A gente escolhia num fichário, pelo nome. E foi assim que começamos a locar filmes como “O Retorno dos Mortos Vivos, “A Casa do Espanto”, “Creepshow” e por aí vai. Volta e meia a gente pegava umas coisas verdadeiramente ruins, como um tal de Hobgoblins, que eram tipo uns Gremlins só que mil vezes mais toscos, feitos com uns bonecos mega-precários que mal se mexiam, mas isso fazia parte da trash-education. O escritor gaúcho Luiz Antônio de Assis Brasil, que foi o cara que me disciplinou e me treinou como escritor, me disse uma vez: “o escritor precisa ler o bom e o ruim.” Com filmes funciona do mesmo jeito. Tu tem que ver o lixo também. O lixo sempre pode ser reciclado pra virar algo melhor. Por falar em nomes de filmes, “Furadeira em Fúria – A Formação do Novo Psicopata Digital” - http://www.youtube.com/watch?v=mvxIRHoj9Vk , nome que dei à minha primeira YouTube Trash Production, é tipo uma homenagem a isso. O filme começa pelo nome. Tem que ser uma porrada. E se o filme é trash, o nome tem que ser trash.
Bem, esses foram os primórdios da minha formação trash-style. Mas só quando assisti à obra-prima “Fome Animal” (Braindead), do Peter Jackson, uns anos atrás, é que vi aquela luz pairando sobre mim e algo dizendo: “tu serás um trashmaker” (hahaaaa!!).


RW - Tu conta com o apoio de algum familiar ou amigo na produção dos curtas, ou faz tudo por conta?
MG - O início do meu processo de criação é sempre muito individual. Sempre começo escrevendo. Eu preciso estar satisfeito com o texto antes de filmar. Preciso sentir que tenho algo interessante no texto. E só quando consigo visualizar a coisa na minha cabeça é que tô pronto pra filmar. Se não visualizo, não filmo, porque sei que vai ficar uma merda. Depois, na fase da produção, depende do que eu quero. “Rango e Charlote”, minha fotonovela Almodovar-das-Antigas-Trash-Style, tinha vários personagens, então chamei uns amigos pra atuar, botei umas perucas coloridas neles, tomamos uns uísques com energéticos e entramos madrugadas adentro produzindo. Eles me ajudavam muito, dando idéias e tal. E a Eliane, a garota que faz a Charlote, se revelou uma baita atriz e realmente encarnou a personagem delirante que eu tinha escrito.
Mas no caso do “Furadeira em Fúria”, por exemplo, eu simplifiquei tanto o processo na produção do trailer que cheguei ao ponto de ser ao mesmo tempo câmera e ator. Eu ajeitava a câmera no tripé, ligava e ia pra frente atuar. Quando precisava de movimento, chamava a Carolina (minha mulher) pra operar a câmera, dava umas rápidas instruções e filmava. É tosco, mas se tu sabe o que tu quer, funciona.
Agora, na fase da pós-produção, nos projetos que exigem bom acabamento, eu sempre chamo ajuda. Pra sonorizar, por exemplo. A qualidade do sound design é essencial e eu não sei fazer, então tenho ótimos parceiros pra isso. Quem faz o áudio e a pós-produção das minhas trash-productions é a Radioativa, uma produtora super legal aqui de Porto Alegre. É lá que fazemos as vozes, as trilhas sonoras etc. Os caras são foda, e a gente se diverte horrores no estúdio. Foi com eles que eu descobri outro trash-talent: o de dublador. Gosto muito de dublar meus personagens.


RW - Como tu descreve o cinema trash de hoje em dia?
MG - Acho que o futuro do trash é promissor. O trash só tem espaço a ganhar neste mercado fragmentado, onde as pessoas selecionam o que querem ver e exigem conteúdo gratuito. Isto é, o mercado comandado pelas mídias sociais. Também acredito muito em formatos mais curtos, tipo filmes pra YouTube, web-trash-series, por aí. O futuro do cinema trash passa por aí. Temos que nos adaptar a isso e criar novas referências. Também acho que as redes sociais permitem uma criação mais colaborativa do filme. Um exemplo: quando postei “O Plugue – Furadeira em Fúria” no Orkut, uma galera apareceu dando idéias sensacionais pra continuação da história. Fizeram isso em forma de scraps e de comentários no YouTube. São idéias que eu uso direto na construção das minhas histórias e isso muda todo o processo de criação e produção. Quer dizer, coloca o próprio público dentro do processo. Me orgulho de ter uma audiência super criativa na internet que pode me ajudar a criar e, quem sabe, até produzir as histórias. Por isso, acabo de criar a comunidade “The Trashmaker” no Orkut. Pra começar a experimentar esse tipo de criação colaborativa. Convido todos a me adicionarem lá - http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=15388623431148379181
 - e a entrarem nessa comunidade pra colaborar com os trash-projects.


RW - Faça uma lista com os teus 10 filmes favoritos e uma com os 10 que achou mais ruins.
MG - Top 10: Fome Animal. Laranja Mecânica. Blade Runner. Pulp Fiction. O Exorcista. Um Lobisomem Americano em Londres. Táxi Driver. O Retorno dos Mortos Vivos. Carrie, A Estranha. A Bruxa de Blair. Um Drink no Inferno... Putz, já passei dos 10. Deixa o resto pra próxima.

Top Lixo: cara, são tantos que vou dar as 10 categorias de piores filmes:
- Animações-com-bichos-metidos-a-engraçadinhos-que-dançam-ao-som-de-músicas-da-modinha;
- Filmes-brasileiros-que-tenham-as-palavras-sexo-amor-ou-traição-no-título;
- Filmes-de-diretores-estrangeiros-que-não-sabem-porra-nenhuma-do-Brasil-mas-insistem-em-filmar-aqui-por-pura-falta-do-que-fazer;
- Filmes-americanos-de-super-heróis-com-novos-galãs-ou-a-gostosa-do-momento;
- Filmes-metidos-a-engajados-com-uma-necessidade-obscena-de-mostrar-a-pobreza-of-the-world;
- Filmes-ganhadores-de-oscar-que-na-verdade-são-o-repeteco-mal-feito-de-outros-filmes-ganhadores-de-oscar;
- Continuações-de-filmes-geniais-que-fizeram-sucesso-e-daí-resolvem-fazer-qualquer-merda-pra-ganhar-uma-grana;
- Filmes-de-comédia-que-parodiam-filmes-de-terror;
- Continuações-constrangedoras-que-tentam-apresentar-franquias-antigas-para-a-nova-geração-misturando-atores-consagrados-e-o-astro-adolescente-e-sem-graça-do-momento;
- Filmes-de-ação-com-tantos-efeitos-especiais-que-a-gente-nem-consegue-entender-direito-que-porra-tá-acontecendo-na-tela.


RW - Música, curte o quê?
MG - Meu primeiro grande ídolo, sem sombra de dúvida, foi o Michael Jackson. Ouve esta: eu era um guri quando lançaram o videoclipe de Thriller na TV. Lançaram no Fantástico. Cara, eu fiquei simplesmente assombrado e fascinado por aquilo! Era um verdadeiro filme de terror trash! Tu sabia que o diretor daquele clipe é o mesmo do clássico “Um Lobisomem Americano em Londres”? Não é à toa que eu curto o trash. Aliás, esqueci de dizer isso na segunda pergunta. Tudo começou com o Michael Jackson. Assim que vi aquele clipe, pedi o disco Thriller de aniversário. Posso dizer que nunca gostei tanto de um som em toda a minha vida. Depois, ainda criança, gostei muito de Ramones e curti os sons dos anos 80 como Depeche Mode, New Order, The Cure etc. Na adolescência viciei em Guns N’ Roses e Iron Maiden e Beethoven (!!!). Com 18 anos descobri os Doors e a partir daí várias outras coisas dos anos 60, os Beatles, a fase híper-trash do David Bowie etc Mais recentemente andei curtindo os novos indies, tipo White Stripes e Franz Ferdinand. Brasileiros gosto muito da Cachorro Grande, que eu vi surgindo aqui em Porto Alegre nuns shows pequenos e sensacionais. Mas preciso repetir: em termos de música, foi aquela bizarrice do Michael Jackson, e particularmente o Thriller, com aquela criatividade absurda, aquele faro para o trash, foi isso a coisa que mais influenciou o início da minha formação como trashmaker.


RW - O que acha das modinhas pelas quais se passa o cenário cultural jovem hoje em dia? (Música, cinema, televisão, etc)
MG - O problema pra mim são as imitações: um filme que tenta ir na carona do outro, uma banda que imita o estilo da outra sem acrescentar nada etc. E infelizmente a maioria é isso aí. Tem muita gente despreparada na mão de produtores que só querem seguir uma tendência e ganhar uma grana. A notícia boa é a seguinte: esses aí tendem a sumir, tendem a ser substituídos. Os bons conseguem se reciclar e se manter.
Mas tem muita coisa dessa modinha que eu gosto, tipo esse “Crepúsculo”, por exemplo. Acho que tem uma personalidade própria. Outro exemplo: depois que o Evanescence estourou lá fora, logo a Pitty apareceu por aqui. Mas a Pitty tem o que mostrar e o que dizer, então se mantém firme, crescendo e se renovando. Independente de gostarmos ou não, ela traz algo novo, porque ela inventou a si própria, ela inventou a sua própria modinha. O problema é quando a modinha inventa o artista. Aí a coisa fica feia. Tipo quando inventam que a modinha é boys band: aí surgem um milhão de boys band, uma mais ridícula que a outra. Quer dizer, o problema não é o conceito em si, mas a imitação, o desgaste do conceito.
Então, respondendo à tua pergunta, a maioria é lixo e sempre será. Porque o mercado funciona assim. Quando surge algo novo, muito mercado se abre. Inclusive pra imitação, pro ruim. Como tu pode perceber, meu conceito de ruim é a cópia. Mas esse não é um problema só da cultura jovem. É geral. Então o negocio é dar uma boa peneirada porque sempre aparece coisa boa no meio.


RW - Recentemente, foi divulgado que a "banda" NX Zero abrirá os shows do Metallica no Brasil (Porto Alegre dia 28/01 [ao qual eu talvez vá \o/] e São Paulo dia 30/01). O que tu tem a dizer sobre isso? (nota: essa notícia foi confirmada como sendo falsa pelo próprio vocalista do NX Emo em entrevista à MTV alguns dias antes da postagem desta entrevista no blog, então, NÃO CHIEM Ò_Ó)
MG - Acho ok. Claro que o som do NX Zero tá a bilhões de anos-luz do Metallica, mas o próprio Metallica tá a bilhões de anos-luz do que o Metallica foi um dia. E não tô falando necessariamente em qualidade, tô falando em momento. A época é outra. O Metallica um dia significou algo que ele não significa mais. Fechar os olhos pra isso é senil. Então qual o problema de apresentar um ícone de uma geração pra uma outra geração? Não tem problema nenhum. Pelo contrário, é uma coisa legal. E é bom pra própria história do Metallica, que assim é passada adiante ao invés de simplesmente se apagar como uma tatuagem de caveira num braço velho.


RW - Alguma meta distante ou sonho pessoal que queira comentar? Fale um pouco sobre teus projetos pro futuro, sobre o teu site, e sobre o que mais estiver planejando.
MG - Meu sonho sempre foi trabalhar criando coisas legais. Comecei escrevendo livros e dando palestras, trabalhei no mercado da propaganda aqui no Brasil e com mídias digitais na Europa. Agora, finalmente me senti pronto pra abrir o meu “Estúdio V de Coisas Fantásticas”, a empresa que administro pelo site. Então acho que posso dizer que já tô realizando o meu maior sonho. Agora acho que a meta é trazer mais pessoas pra dentro do projeto, pessoas criativas, que gostem de colaborar, de dar idéias, de participar, que estejam a fim de criar coisas legais pela internet. Por isso repito meu convite: quem estiver a fim de entrar nessa, entra lá na comunidade “The Trashmaker” no Orkut, que vamos criar coisas really trash.


RW - Muitas pessoas dizem que um bom ator é aquele que se coloca no lugar do personagem. O que é ser um bom ator pra ti?
MG - O bom ator inventa uma nova pessoa. Ele faz existir um ser que antes não existia. E pra fazer isso, ele precisa encontrar essa pessoa dentro dele. O bom ator não finge que é uma outra pessoa. Ele se torna uma outra pessoa, o que é beeem diferente. E o esquisito nisso tudo é que, depois de descobrir essa nova pessoa, o ator sofre uma transformação. E é uma transformação pra sempre. Não dá pra voltar atrás. Não que ele vá sair por aí matando gente, por exemplo, mas ele vê algo dentro dele que, antes, era como se não estivesse lá. Mas estava sim. E acho que o bom ator é aquele que tem treinamento e carga emocional e intelectual e loucura saudável suficientes pra criar diferentes pessoas.
Eu não sou um bom ator e nem tento ser. Não tenho treinamento nem foco pra isso. Mas acho que, justamente por isso, muitas vezes acabo conseguindo um bom resultado. Porque tô pouco me fudendo pra minha “qualidade dramática”. Só tento fazer o personagem ficar legal. O problema do ator é quando ele se preocupa demais tentando parecer um grande ator. Olha, resumindo: acho que sou um excelente ator pra filmes trash!


RW - Não podia deixar de perguntar kkk, conhece a produtora The Asylum? Se sim, o que pensa dela?
MG - Não conheço mas já senti que deveria conhecer e tô indo agora mesmo pra internet solucionar esse problema.


RW - Além de Guitar Hero, que outros games tu curte?
MG - Qualquer game onde habitem o sangue e a ultra-violência.


RW - Pra ti, qual a importância das lesmas no desenvolvimento da tecnologia de locomoção espacial e nos estudos das mesmas na escola de pilotos da NASA?
MG - Total importância, principalmente pra indústria automotiva. Considerando que os cientistas tão se inspirando nas lesmas pra criar robôs espaciais aquáticos e que a Terra será inundado pelo derretimento de geleiras, chego à óbvia conclusão de que logo estaremos dirigindo carros-lesmas.


RW - Qual a tua relação com palhaços e qual teu sentimento para com os mesmos?
MG - Palhaços têm a voz esquisita e a habilidade de provocar sentimentos ancestrais de horror e medo. É daí que vem aquele famoso clichê dos filmes de terror: a “cena-da-canção-de-ninar-com-palhacinho-horrendo-no-quarto-da-criança”.


RW - Para finalizar, deixo este espaço para tu passar um pouco da tua filosofia de vida, como costuma lidar com algum problema, ou se quiser, fale qualquer merda que vier à mente ^^
Um grande abraço, e até mais o/
MG - Minha filosofia de vida é: escolha algo que você realmente ama fazer e comece a fazer essa porra agora!
Meu recado pra quem tá lendo esta trash interview é o seguinte: se tu curte criar coisas mas não sabe que merda fazer com isso, presta atenção: eu quero ouvir a tua idéia! Entra lá na comunidade The Trashmaker, mas tem que receber o convite. E pra receber o convite, tem que ter dado alguma prova de trasheira. Será tipo uma escola da Trasheira para um grupo de realmente quer criar coisas trashs. E vai misturar um monte de gente legal, de idades e cérebros diferentes. Vai ser tipo um laboratório de criação colaborativa. Vamos botar na mesa os trash-talents de cada um, fazer brainstorms, discutir as idéias, escrever insanidades, criar canais no YouTube, botar a mão na massa pretty-good, fazer terrorismo digital e lutar contra a cafonice of the world yeaaaaaahhhhhhhh!!!!


E é isso pessoal, agradeço mais uma vez ao V por ter aceitado a entrevista e a todos que leram ^^
E não esqueçam de acessar o site dele!

Um comentário:

  1. Antológica Trash-interview!! Botei um link com a barata lá no meu site.
    Algumas frases fodas: "o homem por trás da máscara de MonsterGuillermo"; "percebi que havia nele um jovem talento a ser explorado"; "vejam o terror que ele causou a uma palestra à qual compareceu" (hahahaaaaa!!!)
    Ramone = Master of The New Trash Journalism.

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